Amor além dos poemas de amor
(X - Cultura)

Certa feita plantei umas sementinhas de fruta.
Eu mesmo fiz o regador à base de lata.
Furei tudinho o fundo da lata de farinha láctea.
E aguei, molhei, reguei...

Era ali na curva do quintal onde a terra
gestava meu pé de Seriguela.
Foi minha primeira plantação
depois das mamonas da casa antiga.
Nos ramos do mamoneiro eu brincava
de bolinha de sabão.

Demorou muito pr’algum tipo de verde
botar a cabeça de fora.
Mas eu continha a ânsia de regar mais do que devia.
Aprendi com o pai da namorada:
ói que água demais mata a flooor!

Quando eu já tinha quase desistido,
numa tarde de outono a prole vingou.
Nasceu acho que de uns nove meses!

Agora eu pensava até em esterco de morcego.
Mas cresceu a Seriguela
com os cabelo esparramado,
Deu dois três quatro palmo de altura
com um tom meio macho.

Bete quando viu correu pra vizinha
a Dona Doraci.
E a rua soube toda que fiz de minha mãe
Uma avó de capim.



Cristiano Siqueira


(Foto de Stuart Franklin)

3 comentários:

Paixão disse...

Li não só este, como muitos outros poemas do blog. Sua forma de escrever me encanta!
Seus poemas são adoráveis. Parabéns!

Bjs.
Débora Paixão

Eline disse...

Esse poema tem uma inocência matuta! lindo mesmo... que menino não tentou plantar alguma coisa!

Inez disse...

Gostei demais!
;)