Amor amordaçado

Vivo um orgasmo ao contrário.
Atada minha pulsão de vida
Amo calado como quem trata
A ferida, pra que não se cicatrize.

Nas impressões de tua mão
Escorre o suor de meu rosto.
Matizes de teu carinho
Não bastam pra que eu perdure.

Amordaçado o amor, minha boca
Me tritura, me engole e não digere.
Meus olhos escancaram tua nuca
Na tortura de tuas costas longe de mim.

Lembro o dia em que dizia:
Sonho amar de tardezinha...
E eu com os lençóis dos arrebóis
Ouvi: cala-te! Não queria que tu vinhas!

Cristiano Siqueira


(Arte de Aline Siqueira)

Um comentário:

Unknown disse...

Andas muito inspirado!
Fortíssimo poema!
Amei a parte do amor calado que trata a ferida para que não cure!
Luminoso poeta!