Amor pré-histórico

Desde que pela primeira vez
Girou a terra,
Eles vêm se amando...
Desde quando Deus
Nem era talvez,
Desde quando assoma
Ao sentimento
Os rudimentos do idioma.

De remotíssimos tempos
Antes mesmo da química orgânica
Eles vêm se amando...
Ninguém sabe precisar ao certo
Se do amor já havia exemplo
Ou se da infância
Eles próprios criaram
A pedagogia dos exemplos.

Doutores todos
Dos sábios aos tolos
Tentaram medir o porquê
De eles virem se amando...
E a cada vez frustrado um trabalho
Nos tubos de ensaio
Refletido o insucesso numérico dos cientistas
E o desejo homérico único
De amar daquele tanto!

Por estes dias onde grassam
Parcos amores dedicados
E incontáveis abraços pela metade,
Nos arredores daquela cidade
Sob a égide do eterno e do espanto,
Encontraram os arqueólogos
Os esqueletos de um casal pré-histórico

Abraçados se amando...


Cristiano Siqueira

(Ilustração de Aline Siqueira)

Um comentário:

Anônimo disse...

O poema é atemporal em sua beleza.
A ilustração da Aline é de pura singeleza!
Por falar nela, minha "quase xará" ,não a conheço pessoalmente, mas posso afirmar que tem olhos esplendidamente formosos!
Aos dois, meu afeto, sempre.